Quando a gente passa a reconhecer que estava errado, os mais chegados que nos viram fazer coisas em prol do reino de Deus, não aceitam e nem conseguem entender que simplesmente você deixou de crer em tudo aquilo que cria, não por rebeldia ou mesmo frustrações como dizem, mas pelo fato de investigações sérias e respostas sem sentido provenientes do lado religioso.
Eis alguns fatos que me fizeram mudar e repensar em muita coisa e creio que repensar, raciocinar e investigar sejam alvos mais interessantes de se buscar.
Escrevo-os em conjunto com o Ricardo Gondim (em negrito e itálico). Alguns grifos meus aparecem junto dos dele.
1. Não consigo mais acreditar no Deus que interfere na humanidade, que necessita de ouvir orações somente "verdadeiras" para fazer alguma coisa. Tudo depende de nós. Se há um Deus, quero buscá-lo e alcançá-lo com minha razão.
2. Não consigo mais acreditar que os milagres de Deus sejam prêmios que privilegiam poucos. Não consigo entender que Deus se comporte como um "intervencionista" de micro realidades, deixando exércitos de ditadores “correrem frouxos". Inquieta-me saber que Deus tenha uma "vontade permissiva" para multinacionais lucrarem com remédios que poderiam salvar vidas. Não aceito que haja uma razão eterna para que governos corruptos atolem os mais pobres na mais abjeta miséria.
3. Não consigo mais acreditar que Deus, mantendo o controle absoluto de tudo o que acontece no universo, tenha sujado as mãos com Aushwitz, Ruanda, Darfur, Iraque e outras hecatombes humanas. Não aceito que ele, parecido com um tapeceiro, precisa dar nós malditos do lado de cá da história enquanto, do outro lado, na eternidade, faz tudo perfeito. Qual o propósito de Deus ao “permitir” que crianças sejam mortas pela loucura de um atirador ou que uma menina esteja paraplégica com bala perdida? Ou Ele é capaz de combater o mal e não o faz tornando-se cruel ou Ele não tem essa capacidade tornando-se um fraco.
4. Não consigo mais acreditar que a função primordial da religião seja acessar o sobrenatural para tornar a vida menos sofrida. Os cristãos, em sua grande maioria, tentam fazer da religião um meio de controlar o futuro e a mente dos incautos e sem conhecimento de causa; praticam uma fé preventiva, pois aceitam como verdade que os verdadeiros adoradores conseguem se antecipar aos percalços da vida; afirmam que os ungidos sabem prever e anular possíveis acidentes, doenças, ou quaisquer outros problemas existenciais do futuro. Fosse assim não precisaríamos de remédios, médicos ou mesmo de planos de saúde, o que os pastores exigem de seus membros para que façam para eles. Os mesmos ungidos que antevêem alguma coisa. Creio que a verdadeira fé não foge da lida, mas encara o drama de viver com coragem e receber e agarrar as oportunidades que vida nos entrega em qualquer nível.
5. Não consigo mais acreditar em determinismo, mesmo chamado por qualquer nome: fatalismo, carma, destino, oráculo. Não acredito que o mundo funcione como um relógio de quartzo. Tenho cá minhas dúvidas de quem ou o que realmente criou o mundo, mas acredito que tem espaço para a contingência. Sem esse espaço não seria possível a liberdade humana. Creio que no meio do caminho entre determinismo e absoluta casualidade resida o arbítrio humano. Entendo que liberdade é vocação: homens e mulheres acolhendo o intento do Criador para que a história e o porvir sejam construídos responsavelmente. Fazendo atos, que a razão nos cobra por fazer, certos, responsáveis e de caráter moral para o bem e não porque alguém determine que o façamos nos dando algo em troca disso.
6. Não consigo mais aceitar a bíblia como palavra de Deus ou outro livro sagrado que seja. Eles só servem para quem os aceitou como sua verdade: aceitam como autoridade porque entenderam que aquilo faz parte de seu dogma ou doutrina e que me assustam quando muitas vezes servem para destruir a intimidade, personalidade, cidadania e direitos de outros seres humanos.
7. Não consigo mais acreditar nas palavras dos oradores e jargões provenientes das igrejas.
8. Não consigo mais ver histórias que mais parecem fábulas sendo empurradas de goela abaixo de um determinado povo como sendo a verdade absoluta e inquestionável para todo um mundo, passando por cima da lógica, matemática, geografia, história, cronologia.
Talvez eu possa lembrar mais alguma coisa e vir a escrever uma segunda parte e que com certeza terá. Mas, o que mais me interessa hoje é saber que me sinto livre desde que perdi a fé na fé e passei a procurar um chão mais firme e não viver de lacunas.
Muito bom, Miranda.
ResponderExcluirVocê tem alguma postagem onde conta a história de sua mudança?
Cleiton
ResponderExcluirIsso já tem um ano. Não cheguei a pensar porque, como é uma mudança pessoal achei que ninguém se interessaria em lê-la.
Li aquele texto do ex-pastor Dan Barker que você publicou no seu blog, pude fazer de suas palavras e das dele as minhas: me vi dentro daquela história. Até na música eu trabalhava, com crianças, jovens e tudo mais, mas muita coisa mudou de acordo com o que ele relatou em sua história comigo e acredito que para melhor. Hoje me sinto muito feliz e de certo modo aliviado em vários aspectos. Posso até escrever minha história, mas creio que poderia parecer plágio naquele texto de Dan.
Obrigado pela visita.
Ótimo e sincero texto!
ResponderExcluirAlexandre
ResponderExcluirSempre bem vindo aqui.
Grande abraço.
Valeu Miranda! Sempre dou uma passadinha em teu blog! Digamos que no barco em que você está, eu estou com um dos remos! Rs
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