13 de dez. de 2010

Capítulo 2 – A Guerra dos Mundos



por Acauan Guajajara

A aspiração dos crentes de se apartarem do que chamam “o mundo” já dificulta, por si só, o entendimento deles por quem não vê problema em ser um simples terráqueo. Mas o mundo não é coisa fácil da qual se apartar e, gostem ou não, os crentes têm que viver nele e conviver com o que dele é.

Na vida cotidiana os crentes têm que interagir com “o mundo”, cuja rejeição plena em prol de uma crida realidade mais alta só seria possível se o pio se tornasse um João Batista moderno, morando no deserto e comendo apenas gafanhotos e mel silvestre, alternativa que não é acolhida com entusiasmo naquela comunidade.

O grau de concessão ao mundano que os crentes têm como doutrinariamente admissível varia da rigidez dos legalistas conservadores – que são contra quase tudo que não tenha o selo de garantia da Igreja – aos liberais – que toleram até aquela coisa esquisita que é o white metal.

Sempre achei estranho nunca ter conhecido um crente, seja lá de que vertente fosse, que rejeitasse a coisa mais mundana de todas, o dinheiro. Mas eles certamente têm alguma explicação bíblica para isto.

Se a dicotomia de rejeitar o mundo e ainda assim viver nele é difícil para muitos crentes, é ainda mais confusa para quem não consegue entende-los, já que, neste quesito, a diferença entre o discurso e a prática dos religiosos imita o nativo da anedota, que se veste e comporta como turista por conta de uma insatisfação crônica com suas próprias origens.

Embora os crentes costumem reagir a estes comentários acusando a impiedade de quem os coloca, o fato é que eles próprios são divididos e conflitantes quanto a esta questão. Um bom exemplo disto é o confronto entre os crentes radicais, defensores do isolacionismo, e os simpatizantes do chamado mundo gospel.

O primeiro grupo quer segregar seus fiéis do mundo mantendo-os a maior parte de seu tempo livre dentro das igrejas ou serviço delas, enquanto o segundo se propõe a criar fora de seus templos um mundo de mentirinha e imitação, que estaria protegido das tentações do mundo real pela aplicação de algumas regras da igreja a atividades que absolutamente nada têm a ver com ela.

É este mundo gospel que gera, além da música insuportável, exotismos como a boate gospel, o bar gospel e a balada gospel.

A existência ou não de sentido lógico em chamar de bar um local cujo apelo de público é não vender nenhuma bebida alcoólica é um problema dos crentes, não meu. Mas se o objetivo deste manual é esclarecer pontos que dificultam aos não crentes entende-los, esta é uma das coisas que mesmo observadores atentos têm dificuldade de explicar.

É difícil para os céticos compreender o mundo dos crentes também porque suas divergências internas o fazem de difícil compreensão até para os próprios.

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NOTA DESTE BLOGGER: E olha que ele não ainda não chegou na questão dos exageros gospel de estripulias no chão e outras coisitas mais tornando a guerra dos mundos interna (liberais e conservadores) cada vez pior e trazendo mais duvidas para os incautos ou desavisados. 

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